Os PPARs são membros da superfamília de receptores
nucleares de fatores de transcrição induzidos por ligantes. Em mamíferos existem
três tipos diferentes de PPARs: PPAR-α (também denominado de NR1C1), PPAR-β/δ (NR1C2)
e PPAR-γ (NR1C3). Os PPAR foram heterodímeros com receptores de ácido retinóico
(RXR) e se ligam aos elementos responsivos dos proliferadosres de peroxissomos (PPER,
peroxissome proliferator responsive elements)
e controlam uma série de genes envolvidos na adipogênese, metabolismo de lipídeos,
inflamação e manutenção da homeostase metabólica. Similarmente aos receptores nucleares,
os PPAR são compreendidos de domínios estruturais distintos, incluindo o domínio
de transativação N-terminal, um domínio
de ligação ao DNA e um domínio de ligação ao ligante C-terminal (contendo uma função de transativação dependente de ligante),
estes domínios são alvos potencial para a modulação da cascata de sinais dos PPARs.
Seus ligantes naturais são os ácidos graxos (AG) livres, fosfolipídios e eicosanoides.
A ligação do agonista leva a uma mudança conformacional na estrutura do receptor
que permite um recrutamento diferencial de cofatores e subsequente modulação da
atividade PPAR (AHMADIAN et al., 2013)
Apesar de muitas similaridades, cada isoforma
PPAR possui uma função única in vivo, provavelmente
devidoa suas distribuições nos diferentes tecido, diferentes respostas a distintos
ligantes e diferenças ineretes a suas propriedades bioquímicas (POULSEN et al.,
2012; EVANS et al., 2004).
O PPAR-α foi o primeiro dos PPARs a ser identificado,
sendo expresso predominantemente no fígado, coração, tecido adiposo marrom (TAM),
onde exerce a função de maior modulador da oxidação de ácidos graxos e é alvo dos
fibratos, fármacos hipolipidêmicos (POULSEN et al., 2012; EVANS et al., 2004). O
PPAR-δ (também chamado de PPARβ, e comumente referido como PPAR-δ/β) compartilha
funções similares ao PPAR-α, porém é majoritariamente expresso com papel crucial
em tecidos metabólicos como o músculo esquelético, fígado e coração (POULSEN et
al., 2012; BARISH et al., 2006). O PPAR-γ está presente no TAB e TAM e é o maior
regulador da adipogênese assim como um potente modulador do metabolismo de lipídeos
do organismo como um todo e também da sensibilidade a insulina (TONTONOZ et
al., 2008; EVANS et al., 2004)).
O PPAR-γ existe em três isoformas, o PPAR-γ1,
PPAR-γ2 e PPAR-γ3, sendo diferenciados na composição de resíduos a mais de aminoácidos
na porção Nterminal, enquanto que a isoforma
1 é expressa em vários tecidos, a 2 está presente exclusivamente nos adipócitos
em condições fisiológicas normais, mas podem ser induzidas em outros tecidos no
caso de uma dieta hipercalórica (SARAF et al., 2012; MEDINA-GOMEZ et al., 2007)
e a PPAR-γ3 está presente nos macrófagos. Embora todas as três isoformas sejam importantes
na síndrome metabólica, o objetivo deste estudo está focado na isoforma PPAR-γ,
visto a classe de fármacos selecionados serem agonistas desta isoforma.
Receptores acoplados
aos proliferadores de peroxissomos – gamma (PPAR-γ)
Mesmo sendo os AG e seus derivados serem os agonistas
naturais do PPAR-γ, a identificação de ligantes endógenos específicos PPAR-γ tem
sido difícil e seu modo de ação específico, assim como de seus metabólitos não são
claramente definifos. Em contraste, os ligantes sintéticos, como os TZDs, são potentes
ativadores dos PPAR-γ com um forte efeito sobre a sensibilidade da insulina (KUNG
et al., 2012). A consequência dessa super ativação destes receptores, inclusive
no manejo do DM está em seus efeitos colaterais, o aumento do peso, retenção de
fluidos e osteoporose (KUNG et al., 2012). Uma meta análise de ensaios clínicos
tem implicado que a rosiglitazona (Avandia®) tem aumentado o risco de insuficiência
cardíaca congestiva, infarto do miocárdio e doenças cardiovasculares (GRAHAM et
al., 2010), sua utilização nos EUA é estritamente controlado, e tendo sido retirado
do mercado europeu (14). O pioglitazona (Actos®), outro TZD, não apresenta os mesmos
riscos cardiovasculares que a roziglitazona, porém há uma relação na doença cardíaco
congestiva e câncer de bexiga, tendo seu uso também controlado e banido em parte
da Europa (NEUMANN et al., 2012). Diante destes fatos, o nosso desafio está em entender
como agem os diferentes TZDs em sítios específicos diferentes, buscando novas alternativas
para a ativação do PPAR-γ, buscando uma melhora na terapia do DM.
A ativação do PPAR no tecido adiposo aumenta a
concentração de “lipoprotein lipase” (LPL), a concentração de HDL através do aumento
de apolipoproteína AI e apolipoproteína AII e também o estoque de ácidos graxos
neste tecido. Com isso, ocorre uma menor liberação de ácidos graxos para a circulação
sanguínea, uma menor captação destas substâncias pelos músculos esqueléticos e,
consequentemente, um aumento da utilização da glicose por estes tecidos, melhorando
as condições do paciente diabético.
Figura:
Ações desencadeadas pela ativação do PPAR no tecido adiposo marrom, aumentando a
concentração de LPL, HDL e o estoque de ácidos graxos nos adipócitos. Com isso,
há uma menor liberação destas substâncias para a circulação sanguínea, uma menor
captação pelos músculos esqueléticos e, consequentemente, uma maior utilização da
glicose por estes últimos tecidos, melhorando as condições do paciente diabético
aumentando a sensibilidade à insulina (Adaptado AHMADIAN et al., 2013).
2.2.2
PPAR-γ e inflamação no diabetes mellitus
Um número cada vez maior de estudos têm demonstrado
a inter-relação da inflamação com o DM, inúmeros marcadores (TNF-α, IFN-γ,
IL-1β, COX-2, JNK, NFκB, mTOR, PI3K) tem sido evidenciados (AGRAWAL et al.,
2013). A inflamação tem sido associada tanto na diminuição da síntese e
liberação de insulina pelas células β pancreáticas como pelo aumento da
resistência a insulina pelos tecidos periféricos. Citocinas circulantes podem
afetar diretamente a função da célula β levando a uma disfunção na secreção e
um aumento na indução da apoptose. Estas citocinas também podem afetar
indiretamente a função das ilhotas de Langherans por induzirem um processo
inflamatório nos adipócitos (AGRAWAL et al., 2013). Os possíveis alvos desses agentes
como anti-inflamatório seria o controle glicêmico e a diminuição das
complicações micro e macrovasculares (PALOMER et al., 2013)
Figura:
provável mecanismo de ação anti-inflamatório dos PPAR-γ na inibição da
expressão de COX-2, IL-1 e TNF, diminuindo o processo inflamatório. Fonte: http://goo.gl/FJVHUL
(acessado em 01/12/2014).
Referências:
AGRAWAL, N. K. and S. KANT (2014). "Targeting inflammation in
diabetes: Newer therapeutic options." World Journal of Diabetes 5(5):
697-710.
AHMADIAN, M., J. M. SUH, et al. (2013). "PPAR[gamma] signaling and
metabolism: the good, the bad and the future." Nat Med 99(5):
557-566.
EVANS, R. M., G. D. BARISH, et al. (2004). "PPARs and the complex
journey to obesity." Nat Med 10(4): 355-361.
GRAHAM, D. J., R. OUELLET-HELLSTROM, et al. (2010). "Risk of acute
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KUNG, J. and R. R. HENRY (2012). "Thiazolidinedione safety." Expert
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MEDINA-GOMEZ, G., S. L. GRAY, et al. (2007). "PPAR gamma 2 prevents
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NEUMANN, A., A. WEILL, et al. (2012). "Pioglitazone and risk of
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1953-1962.
PALOMER, X., L.
SALVADÓ, et al. (2013). "An overview of the
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diabetic cardiomyopathy." International Journal of Cardiology 168(4):
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POULSEN, L., M. SIERSBAEK, et al. (2012). "PPARs: fatty acid
sensors controlling metabolism." Semin Cell Dev Biol 23(6):
631-639.
SARAF, N., P. K. SHARMA,
et al. (2012). "Role of PPARg2 transcription factor in
thiazolidinedione-induced insulin sensitization." J Pharm Pharmacol 64(2):
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TONTONOZ, P. and B. M. SPIEGELMAN (2008). "Fat and beyond: the
diverse biology of PPARgamma." Annu Rev Biochem 77: 289-312.
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