quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O poder do açaí


O AÇAÍ, Euterpe oleracea Mart.


Figura 1: A) Euterpe oleracea Mart. A (KANG et al., 2012), B) fruto do açaí (belezadacaatinga.blogspot.com.br).


O gênero Euterpe é um gênero de palmeiras nativo de várias áreas da região amazônica da América do Sul (KANG et al., 2010; KANG et al., 2012; KANG et al., 2011; PACHECO-PALENCIA et al., 2009; PACHECO-PALENCIA et al., 2007; ROCHA et al., 2007). Existem três espécies predominantes que produzem uma fruta conhecida principalmente por açaí: Euterpe edulis Mart., Euterpe oleracea Mart. e Euterpe precatoria Mart. Elas diferem umas das outras nas formas de crescimento e também na sua composição química. E. oleracea Mart. tem recebido uma considerável atenção devido à sua alta capacidade antioxidante e potencial efeito anti-inflamatório (HORIGUCHI et al., 2011; KANG, JIE et al., 2010; KANG et al., 2012; KANG et al., 2011; MOURA et al., 2012; MOURA et al., 2011; PACHECO-PALENCIA et al., 2007) enquanto que estudos com E. edulis Mart. e E. precatoria Mart. ainda são limitados (KANG et al., 2012).
Euterpe oleracea Mart. é uma espécie rica em polifenóis (ROCHA et al., 2007) pertencente à família das Arecaceae (KANG, JIE et al., 2010). Pozo-Insfran et al. (2004) demonstraram a presença de antocianidinas e de compostos polifenólicos nessa espécie. A cianidina-3-glicosídeo (1040 mg/L) foi a antocianidina predominante e também descrita como responsável pela ação antioxidante do açaí. Também foram encontrados 16 outros compostos polifenólicos com uma concentração entre 4 e 212 mg/L (DEL POZO-INSFRAN et al., 2004).
Sete principais flavonóides foram isolados de amostras liofilizadas do açaí por vários métodos cromatográficos. Suas estruturas químicas foram elucidadas como: orientina (1), homoorietina (2), vitexina (3), luteolina (4), chrisoeriol (5), quercetina (6) e diidrokaempferol (7) por ressonância magnética nuclear (Figura 2) (KANG, JIE et al., 2010).



Figura 02: Estruturas químicas de sete flavonóides: orientina (1), homoorietina (2), vitexina (3), luteolina (4), crisoeriol (5), quercetina (6) e diidrokaempferol (7) (KANG, J. et al., 2010).


Chin et al. (2008) isolaram 22 compostos com estruturas químicas previamente conhecidas, em que 14 deles são responsáveis pela captura de radicais hidroxilas e 7 pelo sequestro do radical 1,1-difenil-2-picrilhidrazila. Alguns destes compostos apresentaram atividade citoprotetora em células tratadas com peróxido de hidrogênio (H2O2) (CHIN et al., 2008).
Rodrigues et al. (2006) avaliaram a capacidade antioxidante do extrato de Euterpe oleracea Mart. (EEO) e perceberam sua alta capacidade de sequestrar radicais livres, como as espécies reativas de oxigênio, radicais peróxidos e peroxinitritos, porém não foi possível detectar quais os compostos que contribuem substancialmente com esta atividade antioxidante (RODRIGUES et al., 2006).
A inalação a curto prazo de fumaça de cigarro induz significativamente uma inflamação pulmonar através do desequilíbrio nos mecanismos oxidante/antioxidante, acarretando ao animal um estado de enfisema pulmonar (MOURA et al., 2012). Nesse estudo os animais submetidos a inalação de fumaça do cigarro apresentaram um aumento de macrófagos e neutrófilos alveolares, assim como a expressão de mieloperoxidases, superóxido dismutase (SOD), catalases, glutationa peroxidase, fator de necrose tumoral (TNF-α) e de nitritos. Após o tratamento com o EEO houve uma redução significativa da inflamação pulmonar induzida pela fumaça, utilizando-se doses de até 300 mg/kg/dia desse extrato. Estes resultados foram confirmados por Moura et al. (2011) que demonstraram efeito protetor contra o enfisema pulmonar induzida pela fumaça do cigarro após tratamento com EEO. Esta melhora foi relacionada a provável redução das reações oxidativas e inflamatórias produzidas pela toxidez da fumaça.
A intensa atividade antioxidante induzida pelo açaí (redução de radicais peróxidos) foi demonstrada através da determinação da absorbância de espécies reativas de oxigênio (ROS) (SCHAUSS et al., 2006). Alguns dos princípios bioativos do açaí podem promover a inibição de ROS em neutrófilos humanos purificados. Além disso, outras moléculas bioativas relacionadas às funções imunológicas e antiinflamatórias do extrato foram investigadas. O açaí é considerado um candidato a inibidor potencial e seletivo da COX 1 e COX 2, também com um fraco efeito sobre a formação do NO induzido por polissacarídeos e nenhum efeito na proliferação de linfócitos e capacidade fagocitária (SCHAUSS et al., 2006).
Adicionalmente, Costa et al. (2012) estudaram os polifenóis do açaí na disfunção endotelial e vascular em ratos com hipertensão renovascular. A pressão sanguínea e a reatividade vascular foram avaliadas em artéria mesentérica isolada. As expressões mesentéricas da óxido nítrico sintase endotelial (eNOS), superóxido dismutase 1 e 2 (SOD 1 e 2), metaloproteinase 2 (MMP-2) foram avaliadas pela técnica de western blot. O estresse oxidativo e a atividade antioxidante foram avaliadas por espectrofotometria de ultravioleta. O EEO preveniu a hipertensão renovascular ocasionada pela obstrução da artéria renal, através de um clipe (2K-1C), e também a redução da vasodilatação induzida por acetilcolina. As atividades da SOD, catalase e glutationa peroxidase, assim como as expressões de SOD1 e SOD2, eNOS foram diminuídas em ratos hipertensos, mas esses resultados foram revertidos após tratamento oral com EEO (200 mg/kg). O extrato do açaí preveniu o remodelamento vascular e o aumento da expressão da MMP-2, indicando que o mesmo produz efeito anti-hipertensivo, prevenindo a disfunção endotelial e mudanças na estrutura vascular, possivelmente através de sua propriedade antioxidante, ativação da eNOS e inibição da ativação da MMP-2 (COSTA et al., 2012).
O EEO promove também ação vasodilatadora em artéria mesentérica previamente contraida com norepinefrina (Rocha et al. 2007) através da ativação da via NO-GMPc e também dependente do fator de hiperpolarização dependente de endotélio (EDHF). Esta ação vasodilatadora sugere a possibilidade em se utilizar o EEO como uma planta medicinal para o tratamento de doenças cardiovasculares (ROCHA et al., 2007).
Como uma hipótese de que o consumo do açaí poderia reduzir o desenvolvimento da aterosclerose por uma diminuição da absorção e síntese  de colesterol, Feio et al. (2012) descreveram que os animais tratados com o açaí tiveram uma redução significativa do coleterol total e triglicerídios em relação ao grupo controle. Esse animais tiveram uma diminuição da área da placa aterosclerótica em suas aortas, assim como uma redução das túnicas íntima/média. Estes resultados sugerem um melhor balanço na síntese e absorção de esteróis promovido pelo EEO (FEIO et al., 2012).
Diante do conhecimento destas ações antioxidante, antiiflamatória, vasodilatadora, e também da melhora da disfunção endotelial, da diminuição da expressão de enzimas envolvidas com a inflamação, este projeto apresenta como meta principal a avaliação do tratamento do açai em modelo animal de hipertensão arterial pulmonar (HAP).

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