O AÇAÍ, Euterpe oleracea Mart.
Figura 1: A) Euterpe oleracea Mart. A (KANG et al., 2012), B) fruto
do açaí (belezadacaatinga.blogspot.com.br).
O gênero Euterpe é um gênero de
palmeiras nativo de várias áreas da região amazônica da América do Sul (KANG et al., 2010; KANG et al., 2012; KANG et al., 2011; PACHECO-PALENCIA et al., 2009; PACHECO-PALENCIA et al., 2007;
ROCHA et al., 2007). Existem três espécies predominantes que produzem
uma fruta conhecida principalmente por açaí: Euterpe edulis Mart., Euterpe
oleracea Mart. e Euterpe precatoria
Mart. Elas diferem umas das outras nas formas de crescimento e também na sua
composição química. E. oleracea Mart.
tem recebido uma considerável atenção devido à sua alta capacidade antioxidante
e potencial efeito anti-inflamatório (HORIGUCHI et al., 2011; KANG, JIE et al., 2010; KANG et al., 2012; KANG et al., 2011; MOURA et al., 2012; MOURA et al., 2011; PACHECO-PALENCIA et al., 2007) enquanto que estudos com E. edulis Mart. e E.
precatoria Mart. ainda são limitados (KANG et al., 2012).
Euterpe oleracea Mart. é uma espécie rica em polifenóis (ROCHA et al., 2007) pertencente à família das Arecaceae (KANG, JIE et al., 2010). Pozo-Insfran
et al. (2004) demonstraram a presença de antocianidinas e de compostos polifenólicos
nessa espécie. A cianidina-3-glicosídeo (1040 mg/L) foi a antocianidina
predominante e também descrita como responsável pela ação antioxidante do açaí.
Também foram encontrados 16 outros compostos polifenólicos com uma concentração
entre 4 e 212 mg/L (DEL POZO-INSFRAN et al., 2004).
Sete principais flavonóides foram isolados de amostras liofilizadas do
açaí por vários métodos cromatográficos. Suas estruturas químicas foram
elucidadas como: orientina (1), homoorietina (2), vitexina (3), luteolina (4), chrisoeriol
(5), quercetina (6) e diidrokaempferol (7) por ressonância magnética nuclear
(Figura 2) (KANG, JIE et al., 2010).
Figura 02: Estruturas químicas de sete flavonóides: orientina (1), homoorietina (2), vitexina (3), luteolina (4), crisoeriol
(5), quercetina (6) e diidrokaempferol (7) (KANG, J. et al., 2010).
Chin
et al. (2008) isolaram 22 compostos com estruturas químicas previamente
conhecidas, em que 14 deles são responsáveis pela captura de radicais
hidroxilas e 7 pelo sequestro do radical 1,1-difenil-2-picrilhidrazila. Alguns
destes compostos apresentaram atividade citoprotetora em células tratadas com
peróxido de hidrogênio (H2O2) (CHIN et al., 2008).
Rodrigues
et al. (2006) avaliaram a capacidade antioxidante do extrato de Euterpe oleracea Mart. (EEO) e perceberam sua alta capacidade de
sequestrar radicais livres, como as espécies reativas de oxigênio, radicais
peróxidos e peroxinitritos, porém não foi possível detectar quais os compostos
que contribuem substancialmente com esta atividade antioxidante (RODRIGUES et al., 2006).
A
inalação a curto prazo de fumaça de cigarro induz significativamente uma
inflamação pulmonar através do desequilíbrio nos mecanismos
oxidante/antioxidante, acarretando ao animal um estado de enfisema pulmonar (MOURA et al., 2012). Nesse estudo os animais submetidos a inalação de fumaça do
cigarro apresentaram um aumento de macrófagos e neutrófilos alveolares, assim
como a expressão de mieloperoxidases, superóxido dismutase (SOD), catalases,
glutationa peroxidase, fator de necrose tumoral (TNF-α) e de nitritos. Após o
tratamento com o EEO houve uma redução significativa da inflamação pulmonar
induzida pela fumaça, utilizando-se doses de até 300 mg/kg/dia desse extrato.
Estes resultados foram confirmados por Moura et al. (2011) que demonstraram efeito
protetor contra o enfisema pulmonar induzida pela fumaça do cigarro após
tratamento com EEO. Esta melhora foi relacionada a provável redução das reações
oxidativas e inflamatórias produzidas pela toxidez da fumaça.
A intensa atividade antioxidante
induzida pelo açaí (redução de radicais peróxidos) foi demonstrada através da
determinação da absorbância de espécies reativas de oxigênio (ROS) (SCHAUSS et
al., 2006). Alguns dos princípios bioativos do açaí podem promover a inibição
de ROS em neutrófilos humanos purificados. Além disso, outras moléculas
bioativas relacionadas às funções imunológicas e antiinflamatórias do extrato
foram investigadas. O açaí é considerado um candidato a inibidor potencial e
seletivo da COX 1 e COX 2, também com um fraco efeito sobre a formação do NO
induzido por polissacarídeos e nenhum efeito na proliferação de linfócitos e
capacidade fagocitária (SCHAUSS et al., 2006).
Adicionalmente,
Costa et al. (2012) estudaram os polifenóis do açaí na disfunção endotelial e
vascular em ratos com hipertensão renovascular. A pressão sanguínea e a
reatividade vascular foram avaliadas em artéria mesentérica isolada. As
expressões mesentéricas da óxido nítrico sintase endotelial (eNOS), superóxido
dismutase 1 e 2 (SOD 1 e 2), metaloproteinase 2 (MMP-2) foram avaliadas pela
técnica de western blot. O estresse
oxidativo e a atividade antioxidante foram avaliadas por espectrofotometria de
ultravioleta. O EEO preveniu a hipertensão renovascular ocasionada pela
obstrução da artéria renal, através de um clipe (2K-1C), e também a redução da
vasodilatação induzida por acetilcolina. As atividades da SOD, catalase e
glutationa peroxidase, assim como as expressões de SOD1 e SOD2, eNOS foram
diminuídas em ratos hipertensos, mas esses resultados foram revertidos após
tratamento oral com EEO (200 mg/kg). O extrato do açaí preveniu o remodelamento
vascular e o aumento da expressão da MMP-2, indicando que o mesmo produz efeito
anti-hipertensivo, prevenindo a disfunção endotelial e mudanças na estrutura
vascular, possivelmente através de sua propriedade antioxidante, ativação da
eNOS e inibição da ativação da MMP-2 (COSTA et al., 2012).
O EEO promove
também ação vasodilatadora em artéria mesentérica previamente contraida com
norepinefrina (Rocha et al. 2007) através da ativação da via NO-GMPc e também dependente
do fator de hiperpolarização dependente de endotélio (EDHF). Esta ação
vasodilatadora sugere a possibilidade em se utilizar o EEO como uma planta
medicinal para o tratamento de doenças cardiovasculares (ROCHA et al., 2007).
Como uma hipótese de que o consumo
do açaí poderia reduzir o desenvolvimento da aterosclerose por uma diminuição
da absorção e síntese de colesterol,
Feio et al. (2012) descreveram que os animais tratados com o açaí tiveram uma
redução significativa do coleterol total e triglicerídios em relação ao grupo
controle. Esse animais tiveram uma diminuição da área da placa aterosclerótica
em suas aortas, assim como uma redução das túnicas íntima/média. Estes
resultados sugerem um melhor balanço na síntese e absorção de esteróis
promovido pelo EEO (FEIO et al., 2012).
Diante do conhecimento destas ações
antioxidante, antiiflamatória, vasodilatadora, e também da melhora da disfunção
endotelial, da diminuição da expressão de enzimas envolvidas com a inflamação,
este projeto apresenta como meta principal a avaliação do tratamento do açai em
modelo animal de hipertensão arterial pulmonar (HAP).